Como você avalia o ensino da Geografia no Brasil.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

POR QUE ESTUDAR GEOGRAFIA?

Zeno Soares Crocetti(1)



Em Geografia, o espaço geográfico existe na medida em que o Homem, por meio do trabalho, estabelece a ligação interdependente entre o meio natural e o social, interação existente em cada espaço produzido pelo homem. Aprendemos quando entramos em contato com as coisas que nos cercam e que vão sendo incorporadas ao nosso acervo cultural. Assim, a aprendizagem só é possível quando há dois elementos.
Ter consciência é ter conhecimento das coisas que existem na Natureza, na Sociedade e no próprio indivíduo. Então, aprender significa tomar consciência da realidade objetiva (exterior à mente humana) e da realidade subjetiva (interior ao indivíduo).



1 -O sujeito, que possui os canais de comunicação com o meio exterior, isto é, os órgãos dos sentidos, o sistema nervoso central, órgão condutor das imagens do meio exterior até o complexo cerebral, que tem como função agregar o já conhecido (armazenado em nossa mente) ao conhecimento novo e reelaborar os dados obtidos e refletidos numa dimensão nova, isto é, superior à antiga;


2- O objeto, representado pelos componentes do meio exterior contidos na Natureza, na Sociedade e no próprio indivíduo.


“Por intermédio do seu trabalho produtivo e social, o homem historiciza a Natureza, o que significa repassar a ela sua dimensão de desenvolvimento civilizatório (econômico/social, científico/tecnológico e artístico) na proporção de sua capacidade de transformá-la e de senti-la dotada de superior dimensão social.É pelo mecanismo de sua inserção no quadro natural que o homem vai construindo o espaço geográfico, sendo este caracterizado pela crescente socialização da natureza quando introduzimos no habitat ecúmeno maior avanço cultural no sentido abrangente (lato senso). É bom frisarmos que só há socialização da natureza na medida em que ela se beneficia concretamente dos avanços progressistas da humanidade que possibilitam mantê-la preservada em seus valores sociais, o que significa mantê-la em seus valores naturais. Caso contrário, isto é, num processo inverso de depredação, portanto de utilização irracional, ela é transformada numa mercadoria descartável. Em vez de socialização teremos um processo inverso de dessocialização da natureza. Simultaneamente, na proporção em que o ser humano historiciza a natureza, assistimos à naturalização da sociedade. Isto quer dizer que há uma reciprocidade funcional pautada pelo mecanismo de trocas mútuas. E o próprio homem que historiciza a natureza, naturaliza a si próprio, via inserção da natureza em nossa vida existencial.”(Horieste Gomes, A produção do espaço geográfico no capitalismo. S.Paulo: Contexto, 1990.)
Através desse estudo, podemos entender melhor tanto o nosso lugar de moradia — seja uma cidade, seja uma área rural — quanto o país do qual fazemos parte, assim como os demais países da superfície terrestre, pois a geografia sempre foi tratada como um amontoado de conhecimentos do tipo almanaque, meramente descritivos e informativos, sem nenhuma relação com a realidade, precisamos mudar esse perfil!
Para nos posicionarmos inteligentemente frente a esse mundo, temos de conhecê-lo bem. Para nele vivermos de forma consciente e crítica, devemos estudar os seus fundamentos, desvendar os seus mecanismos. Ser cidadão pleno em nossa época significa, antes de tudo, estar criticamente integrado na sociedade, participando ativamente de suas transformações, o que exige constante reflexão sobre o nosso mundo, compreendendo-o desde o âmbito local até o nacional e o mundial. Nesse sentido, a Geografia é um instrumento indispensável para empreendermos esse trabalho de reflexão e transformação do universo em que nos inserimos.
E o homem, onde se situa nesse amontoado de informações? Há muito tempo ele vem transformando o espaço natural em seu benefício, mas o estudo desta paisagem continuou intocável, desvinculado da realidade. Os problemas da geografia não dizem respeito apenas aos geógrafos, mas, longe disso, refere-se a todos os cidadãos.



Qual o papel da geografia hoje?


A geografia é a ciência do espaço produtivo e social, ou seja, é o estudo das características da superfície da Terra e das conseqüências econômicas, sociais, políticas e culturais da sua ocupação pelo homem. Sua origem remonta à Grécia antiga, onde Hipócrates estudou o gênero de vida dos Citas, pastores nômades, que habitavam a periferia de Atenas. Esse trabalho é reconhecido como a primeira sistematização do conteúdo de Geografia. Outros gregos também estudaram a geografia, entre eles destacamos Alexandre, o Grande, Aristóteles, Anaximandro, Eratóstenes, Heródoto, Tales de Mileto, entre outros, embora historicamente Estrabão seja reconhecido como o primeiro geógrafo, pelo conjunto e importância de sua obra.
Etimologicamente, geografia quer dizer geo = terra, grafia = escrita, marcas. Portanto, geografia seria o estudo de um povo, de uma civilização sobre um território; em última análise, a relação entre o homem e a natureza, mediada pelo trabalho, tendo como resultado o Espaço Geográfico.
A geografia é definida como a ciência que estuda as relações entre sociedade e natureza. Sendo assim, o espaço geográfico é um produto histórico da atividade humana.


Por que o espaço geográfico é um conceito tão importante para a geografia?


O conhecimento geográfico é uma iniciação ao raciocínio espacial, hoje tão necessário na formação do cidadão. A mídia transmite informações procedentes de todos os países do mundo. Dessa maneira, precisamos ter uma visão crítica dos fatos, e não só uma simples indiferença de espectador. Para que isso seja possível, é preciso ter uma representação integrada do planeta, suficientemente precisa e diferenciada. Para que esse mecanismo de desnudamento e desvelamento da realidade opere, o espaço deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, certo arranjo de objetos geográficos, objetos naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento.
As transformações no espaço geográfico, portanto, nem sempre são resultantes da revolução tecnocientífica, mas provêm da intervenção simultânea de redes de influência que operam ao mesmo tempo em uma multiplicidade de lugares espalhados pela superfície da Terra. Isso vem revolucionando nossa noção de tempo e de velocidade. Chegando finalmente a um mundo onde, melhor do que em qualquer outro período histórico, podemos falar de um espaço total em tempo real.


Encaminhamento metodológico


É nestes termos que a Geografia hoje se coloca. É nestes termos que seu ensino adquire dimensão fundamental no currículo: um ensino que busque junto aos alunos uma postura crítica diante da realidade, comprometida com o homem e com a sociedade; não com o homem abstrato, mas com o homem concreto, com a sociedade tal qual ela representa, dividida em classes, com conflitos e contradições e, que, particularmente, contribua para sua transformação.
Diante do que foi colocado como preocupação de estudo da Geografia, e que se desdobra ao longo dos temas a serem tratados, evidencia-se a produção do espaço nas circunstâncias do mundo atual, construída por sociedades concretas. Significa uma Geografia de homens concretos que leve a entender as múltiplas experiências contraditórias, como referência do espaço por eles produzido. Por meio desta dinâmica de busca de informações significativas, de questionamentos e reflexões, o trabalho com o conteúdos geográficos em um determinado capítulo desperta o aluno a fazer uma leitura interpretativa do mundo, tendo como referencial e ponto de partida o seu próprio espaço vivido.
Através da capacidade de leitura e dessa nova forma de apreender o mundo, ler a palavra é também ler o mundo e quanto mais bem instrumentalizado estiver a pessoa, maior e mais profunda será sua capacidade de análise e transformação da sociedade: “Não mais representar o visível, mas tornar visível” Paul Klee
Sugestão de trabalho “Caminhante, não há caminhos, caminhos se fazem ao caminhar” Antônio Machado Quase sempre que se fala em metodologia, é comum encontrarmos um universo de encaminhamentos que ora se compõem de observações de caráter muito genérico que pouco contribuem para o nosso trabalho cotidiano de sala de aula;ora, o que é pior, se reduzem a receitas e fórmulas prontas que parecem ignorar as peculiaridades de cada professor, de cada aluno, de cada região, homogeneizando todas estas diferenças possíveis através dos rolos compressores das “técnicas” e “estratégias” pedagógicas, termos que, por si sós, já denunciam uma postura positivista e alienante diante da educação.
Preferimos um posicionamento em que o mais importante seja ter sempre a preocupação de se considerar o nível de compreensão do aluno, ouvindo-o para colher o seu repertório, enquanto ponto de partida para a reflexão de suas próprias experiências e de outras situações reais. Nessa perspectiva de orientação, o que importa é a descoberta feita pelos alunos. Nesse sentido, eles passam a ver o mundo sob a ótica de uma leitura que os desvela a si mesmos como sujeitos participantes e participativos dos seus espaços de vida e, portanto, capazes de questionar as situações dadas e de reivindicar melhores condições concretas de existência.
Dentre as inúmeras formas de se obter esta participação e essa abordagem, a pesquisa direta, a exemplo dos estudos de meio, tem a vantagem de desenvolver o ensino debruçado diretamente sobre a realidade, porém a pesquisa, como todo ato de investigação e reflexão, não se restringe apenas à pesquisa direta, pois a observação, o reconhecimento, a sensibilidade e o entendimento podem ser desenvolvidos indiretamente, envolvendo também atividades como análise de textos, dados estatísticos, informações técnicas; coleta de material corriqueiro do dia-a-dia do cotidiano, como embalagens, etiquetas; constatações de fatos veiculados pelos meios de comunicações etc.
Tais atividades também podem ser realizadas pelos alunos sem o acompanhamento do professor, desde de que sejam devidamente orientados, e é nesse sentido que se podem aproveitar os relatos das pessoas do convívio do aluno, das pessoas da comunidade local, relatos que, reproduzidos em classe, poderão ser reconhecidos pela análise de todos. A classe deve ser, por excelência, o local onde se converse constantemente sobre os fatos que estão acontecendo na escola, na família, nas diversas comunidades locais, nos noticiários de televisão, nos jornais etc.


(1)Professor de Geografia, diretor da Associação dos Geógrafos Brasileiros, Caixa postal 6744 -Curitiba/PR CEP 80001-970 – FoneFax (041) 338-2562 – Correio Eletrônico: crocetti@uol.com.br. Autor de livros didáticos pela Editora Módulo.



http://www.agbcuritiba.hpg.ig.com.br/Textos/porque.htm


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